Velhos Tempos
Estranha essa estrada comprida e veloz.
Sem tremas, a tranquilidade já não se encontra sem antes muitas voltas e muitos quereres e muitas coisas guardadas, emboloradas, cheias de mofo em volta de pequenos gestos de falsidade, de auto-sabotagem, de auto-idolatria disfarçada de um silêncio de não se ter o que dizer.
E chorar tanto depois de tanto tempo sem sentir nada e se perder no meio de si.
Entre aquilo o que se é, aquilo o que se deseja ser e aquilo contra o qual se luta para não ser.
(Mas se é)
Tempos ingratos, sem verdade, sem brisa, sem tudo aquilo o que não volta e o que desejamos tanto (e secretamente, sempre) que voltasse, para que pudessemos cometer todos os mesmos erros, mas dessa vez sem sobrar nada por dentro, sem viés, sem nada, tudo tão escuro que arda os olhos.
Suficiente pra quem vai ter sempre que conviver consigo, entre a culpa e uma noite pra sonhar com alguma coisa bonita e contínua.
Da qual seja impossível recordar, mas que seja linda e em preto e branco.
Recuperar alguma coisa em um diário de textos inacabados, todos faltando parágrafos, porém cheios, porque não se pode ter o que não foi dito, o que não ficou claro, porque nunca fica, porque tudo são pontos de vista, mesmo a ciência, mesmo a gramática, e um dia escrever uma carta.
Uma pra cada um.
Que já se foi e não pode mais responder.
Que não soube o que aconteceu depois que abandonou tanta coisa dentro de tanta gente.
Querer secar um oceano de importâncias entranhadas assim, de uma vez só, com um pedaço velho de pano de chão.
Difícil viver.
Morrer, então, talvez nunca.