quarta-feira, 20 de maio de 2009

Quanto vale?

Cansaço. Cansaço.
Porra, sabe, exaustão. De ficar rompendo com a linguagem o tempo todo. Procurando a lógica nas condutas, as meias-palavras pra dar as notícias, um ritmozinho pequeno, vago, pobre...

Acontece que às vezes a gente sai tão pó porque perdeu. Nesse caso, saber perder é relativo. Um monte de pedaços de gente que vão-se embora (em si e no choro dos outros), mas que acabam se acumulando debaixo da nossa porta. Hoje é difícil encontrar um espaço no armário pro luxo de guardar cada resto.

Depois escolhe a roupa com que vai sair de casa no dia seguinte. O dia em que te agradecem alguma coisa que: imagina, não fiz mais do que minha obrigação. E é assim. Continua, a vida, dizem.

(Próximo, caixa livre.)

Ficar achando tudo tão monótono: o alarme tocar todo dia na mesma hora, ter que sair cedo pra não pegar trânsito, ter que comer direito porque não dá tempo de não ter saúde.

Só que chega uma hora em que todas as tendinites valem à pena sim. Dizer as coisas fora do seu campo semântico. Fazer festas surpresas pelo mundo. Deixar-se flutuar um pouco nos equívocos dos outros. Todos os cacos de vidro, toda a maresia grudada na janela, todos os versos, e risos, sim.

(essas coisas que fazem qualquer um achar que virou um deserto.)

Senão vai ficar entrando na água aos pouquinhos, molhar só a barriga, depois os antebraços, o rosto, a nuca, e não vai nunca aprender como é arriscar um choque térmico. Ver que isso tudo é arcaico. Essa sabedoria redundante, isso de ser melhor, de se tornar indispensável, de tentar dormir sem culpa. É só reprise de novela ruim.

Ninguém quer.

O que se quer é além. A salvação em qualquer troço condenável, lamentável... Alguma coisa eterna que não dure mais do que cinco minutos pra não dar tempo de enjoar, de desconfiar, de desprezar. Alguém inatingível na palma da mão.
E, principalmente, não absorver nada, não reter coisa alguma. Ainda assim, chegar ao fim do dia em iminência de tudo. De tanta coisa que tem dentro.

Uma vida que consiste em pausas pra reconsiderar as escolhas, de trás pra frente. E entre as pausas, enriquecer.

achar. rasgar. burlar.
(morrer é um troço solitário pra caralho.)

Não fingir que nada está acontencendo.
Isso, sim, isso é conseguir.
Estar lá na frente pra ver. Pra descobrir o que vai ter depois.

Depois que não faltar mais nada.

Não faltará.