(Vômito)
Engraçado como toda perda ficou pequena, como todo amor e toda prova perderam o sentido. É como se tudo nunca tivesse sido. Nunca.
As lágrimas já são agora como um desperdício. As tatuagens tão sonhadas ficaram bobas, deram língua e foram embora.
Porque tudo se foi.
Com ela e com todos eles.
(Através dos canos, seringas e coisas intravenosas que nos dão pra podermos esquecer. Mas não podemos. Não há como.)
No fechar dos olhos é só o azul e o cheiro.
Um cheiro repugnante como eu sempre imaginei que teriam as câmaras de gás, embora lá não se queimasse ninguém.
Memória latente.
Da partida até a chegada pra essa outra vida, que a gente espera que um dia faça tudo valer a pena, o sentimento de desamor e toda a escrotidão do vazio gritando que não vão. Não tão cedo.
E eu, na doce ilusão de que um dia eu vá conseguir reparar por dentro e por fora todo esse estrago. Como se em algum momento, todas as coisas fossem estar ao meu favor, e eu fosse poder percorrer um caminho de volta juntando todos os cacos que larguei pelo caminho, destrancando todas as portas que, se quer, tive coragem de abrir, e então viver as coisas que me estavam reservadas, mas que eu abri mão porque me julguei incapaz, porque não tive coragem, porque tive medo.
Só que tudo isso, infelizmente, não vai acontecer. Então o que me resta é abrir aquela caixa fria e escura, e empurrar pra lá mais essa duzia de medos, frustações e desacertos. E saber que eu só venho aumentando os restos que virão me assombrar. Pra sempre.