terça-feira, 22 de julho de 2008

Reversibilidade

(26 de maio de 2008)

Pela segunda vez tentou fazer da palavra um texto. Pela segunda vez foi tomada pelo impulso de falar de outro, de outras e de um outro tempo, tal era a semelhança. Mas lembrou da palavra, lembrou dos primatas e então esqueceu.

Lembrou assim do que lhe era latente ali, naquele momento. Lembrou-se do desafio de “relacionar-se sem relacionamento”. Sorriu. Gosta de desafios. Gosta de vencer desafios. Gosta de reverte-los pra si.

Porque a arte de ser sozinho requer algo muito além de vontade própria. Requer habilidade para exercitar desprendimento. Desprendimento pelo que o outro possa ter de melhor e mais bonito. (Porque o pior já é praxe tentarmos esquecer).

Por um instante lembrou do menino. Lembrou de seu gosto. Lembrou do cheiro do gosto... e do inverso também.

(Exercitar desprendimento...
Lembrar e esquecer..
Querer pra si e ceder aos outros...)

Não se criam correntes de elos abertos.
Nem relacionamentos de vínculos vis.

Então, sejamos breves.

Portas Abertas

(02 de julho de 2007)

Sensibilidade, ainda que tardia, a toda beleza exposta, registrada, transformada. Arte que vira vida no jardim da frente e morte no jardim de trás.
Vida rabiscada nas paredes e refletidas nos espelhos. Reflexões. Refletindo gestos de interrogação para mais tarde contemplar a entrega.
O espetáculo de assistir a redenção e render-se também.
“...não é aquilo que se vê, não é aquilo que se vê...” – Não é mesmo. Nunca foi. E as luzes piscam para nos certificarmos disso.
No tic-tac (tic-tac, tic-tac, tic-tac...) latente, ver a obra ganhar vida e aí sim virar arte. E nisso constatar que sem eles teria sido uma obra perdida.
(Mas quantos tinham mesmo um pacote na cabeça? Difícil dizer.)
Na memória ainda a lembrança daquele vídeo. A melodia nostálgica da caixinha de música nos levando até a sala para dizer que podia não ser a bailarina e não teria feito a menor diferença.
Quem se importa?
Vai ver era meu o pacote na cabeça.

Tatou


(30 de janeiro de 2008)

Na caixa, muito mais do que a atriz francesa que ela quis ser um dia. Na caixa muito mais do que a personagem de um outro enredo a ser descoberto. Na caixa uma palavra: amor... Pra se lembrar do dela.
Aquele é sobre a falta que o outro faz. E como, absolutamente, tudo muda de sentido quando isso acontece.
Pra lembrar que amor e carinho são bons agora, aqui. Nada pra depois. Nada pra quando passar. Principalmente porque o amanhã nunca chega e certas coisas nunca passam.
Mas um “eu te amo”, ainda que nada mude, precisa ser dito se for de verdade. Porque há palavras que são altamente tóxicas quando ingeridas e essas são delas.
“Eu te amo” é pra pôr pra fora.
(Hoje eu pus)

(Eu te amo e estou morrendo de saudade.)

Gravitacional


(Março 2008)

Teve vontade de ligar. Quis dizer que podia. Quis dizer que queria. Quis dizer até que se arrependia... Pelo amor não dado. Pelos beijos guardados. Pela vida linda que podia ter acontecido. Mas que não.
Nas palavras escritas pelo menino, o cheiro de tudo de belo e mágico que ele trouxe pra vida dela. Vai ver ela não saberia mesmo saber o que fazer com tudo aquilo.
(Era tanto. Era muito.)
Fazendo o mesmo caminho tantas vezes percorrido, quis ouvir que ainda havia tempo, que ainda não era tarde. Que o amor ainda vivia lá, além daqueles papéis e dos clipes com ferrugem. Não tinha como.
Tentou lembrar quando foi, depois daquela última vez, ter visto algo mais bonito. Não viu. Ele quando queria sabia ser belo. Ou mais.
Quando o menino já não era ele, quando ela já não era aquela, se reencontraram. E não. Por dentro o desejo de saber como tudo teria sido.
Desejo. E só.

Ao Meio

(22 de fevereiro de 2008.)

Agora é tudo partido. Agora é tudo em número dois, porém, nesse caso dois é ímpar.
E no meio desse turbilhão de acontecimentos, ter que deixar o que houve de melhor ir pelo ralo... Deixar descer pelo “cíclico espiral” da vida. Ficar com o pior pra poder seguir. Porque não é descaso... É só um caso incurável de desorientação.
E nesses dias ter que esboçar “sorriso-amarelo-gema” pra camuflar o quanto as idéias “multicoloridas-solitárias” do outro incomodam. O “solitárias”.
Vai ver quando crescer ele entende que esse ímpeto do “novo de novo” tende a nos enganar, e na hora de rearrumarmos nossa casa temos de ter cuidado especial com as peças que tem vida e vontade. O lugar errado pode ser fatal.
Mas a propósito: Como é que se faz pra ganhar confiança de cachorro? Vou precisar.

Mola Encolhida

(7 de setembro de 2007.)

Hoje foi tudo de novo, mais uma vez e agora pra sempre.
Hoje foram as justificativas tolas, os risinhos amarelo-falso e a velha preocupação de “ter-te por perto”.
Hoje de diferente só o silêncio da menina, o cansaço, e através dele a confissão da desistência.
Hoje, como num flash, toda aquela vida deixada pra trás (Ou pra frente?) vislumbrada de uma só vez.
Então se lembrou que se comodismo é mesmo um vírus letal, o amor também é.
Hoje a escolha de não pensar sobre a fim de passar imune. E a necessidade de se comprar um caixa bem grande pra pôr toda essa vida, que já não a pertence mais.
Às vezes demora, mas sempre chega.