domingo, 10 de agosto de 2008

Divindade Silenciosa

De repente sou uma cantora num mundo de deuses surdos. Surdez que tem o sabor quase agridoce dos que se recusam a aceitar... Aceitar as ondas, que vêm sonoras... pra nos fazer enxergar.
Pense que tudo é luz. E a luz é picante.
Num banco da praça a moça olha pro chão, e nesse momento ela é a deusa. (Porque nessa horas sempre ficamos de cabeça baixa, e não importa quando, mas chegará o dia e que você também não vai querer aceitar.)
Ao contrário dela, ele desliza. Está bonito. Livro na mão, falando sozinho. Não percebe a divindade silenciosa diante de si. Na verdade teve os sentidos retardados quando escolheu enfrentar.
(Diga a eles que não vou esperar a passagem. Vou começar agora. As coisas já mudaram e eu vou assim mesmo.)
Hoje ele é leve, é luz... Hoje é picante. Tentou trazê-la, mas ela não quis. (Certas coisas podem ser muito fortes para um tipo agridoce.)
E agora ele vai.
E ela? Ela fica, ela sobra, ela resta. Ela manifesta o desejo reprimido de provar que pode sim transformar tudo em festa... Mas então atesta que já não pode mais.
E era uma vez.

(2007)

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