domingo, 10 de agosto de 2008

Manual



Anda, grita!
Me arrebenta de pancada, cospe na minha cara, diz que te enojo.
Só não fica aí estático com essa cara de babaca, fingindo que me entende, dizendo que me ama...
Não mente, porque agora quem se enoja sou eu, de ver atolado no seu mar de histórias descabidas.
(E eu me finjo de imbecil, porque adoro ver você se enchendo da certeza de que te pertenço, e que isso é incondicional.)
Burra, cega, apaixonada... É assim que me comporto ao ficar próxima de você e sinto o seu prazer nisso escorrer pelos seus poros, te deixando suado com as minhas atenções.
Agora eu estou aqui e você está aí.
E não finja que isso te basta porque eu sei que não é assim.
Não me dê boa noite me desejando pesadelos, e não me deseje um bom dia se pretende que eu continue sendo sua,
Cansei de ser julgada, culpada, coagida.
Cansei de me fazer de vítima, de ser menina, de jogar seu jogo.
Cadê as regras desse jogo onde o prêmio é você?
Cadê as regras desse jogo onde não existem equipes?
Cadê as instruções pra eu saber como é que eu faço pra virar a mesa... e jogar pratos garfos e guardanapos no chão?
Me ensina você que sabe tudo, como é que faz pra se dar com gente do seu tipo... ou não se dar.
Porque tu não conjuga o verbo dar, só o verbo receber
O verbo dar é exclusividade do eu, eu que conjuga dar, conjuga viver, conjuga amar...
Eu, que conjuga tudo que tu jamais vai experimentar.
Anda, vem aqui...
Me empresta sua pele, me dá sua saliva.
Anda, tira minha roupa que preciso dormir...
E por favor, apague a luz.

(2007)

0 comentários: