quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Poças

A gente enjoa de chuva.

Enjoa de chuva e de tudo que ela devia carregar, mas que não.

Tem chovido tanto ultimamente, que eu ando inundada de coisas mal resolvidas.
Coisas que são como pedaços de papel, que a chuva desmancha antes que eu consiga resolver...
E fica aquele vazio, aquela sensação de que devia ter sido mais, mas não foi.

Amor causa inércia. Chuva também.

Será que quando o sol vier isso cura?

Enquanto isso vou vendo as poças enfeiando tudo...
... e vendo você enfeitando o resto.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Pó de Estrela

Resumir é fácil, detalhar é fácil. Mas e dizer a verdade?
Por via das dúvidas, queria ter escrito aquilo: "não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer."

(As melhores idéias que tive foram roubadas dos outros.)

Mas é a única coisa que não cabe dentro de mim. Porque sempre acaba da mesma maneira: eu chorando e você dizendo que me avisou.

Agora, e se o tempo for uma reta mesmo? Se for, não há mais solução e certamente tem alguém feliz com isso; acho que até já sei quem...

(fui de cabeça baixa, olhando pro chão, pensando: estou me repetindo, estou me repetindo. então fui encontrar com ele no restaurante mas, quando cheguei, sentei no bar. não falei com ninguém porque queria fazer uma promessa antes. sentei naquele banco alto, que deixava os meus pés balançando, e olhei lá dentro dos líquidos de cada garrafa na prateleira. falei: nunca mais vou topar nada. acho que ninguém ouviu; melhor assim, sem testemunha. pra não vir ninguém catar os meus pedaços depois, e dizer: você sempre soube que isso ia acontecer... que coisa horrível de se escutar.)

Mas quanto a você, tenta, sim.
Nunca entendo nada do que você me escreve mesmo.
E me desculpa se não te deixei me dar um beijo. (Devia ter deixado.)

Porque é isso mesmo, ser humano: ficar enganando o vazio de dentro mesmo com gente brilhando em volta.
Nunca ter a certeza de estar dentro da própria rota, da própria pele.
E, às vezes, conseguir preencher tudo aquilo com a simplicidade de acreditar em alguma coisa ou em alguém.

Mas depois, não se iluda: volta tudo. Sempre volta. Até o dia em que acabar. Se é que acaba. E, enquanto isso, ignorar. A culpa, a culpa, a culpa. O tempo perdido. O caminho de volta. Qualquer indício de nostalgia. Deixar a nossa vida inteirinha em stand by. Porque, na realidade, a gente é só aquilo... Pó de estrela... E todo mundo quer a mesma coisa...

Esquecer.

Álbum

Os textos têm ficado restritos.

Restritos num universo negro e lindo, repleto de boas lembranças e expectativas futuras.
Num universo recente, quase sonho... Que ainda vai se concretizar.

Nesse universo textos egoístas têm sido frequentemente produzidos.
Textos que falam de dois de uma maneira tão íntima, que não caberiam terceiros.

Mas hoje me abro novamente pra'qui.
Hoje prometo recomeçar.

"ninguém vive só de amor"

(Só eu.)

domingo, 31 de agosto de 2008

Restos

Tornar-se mais velho, mais chato, mais cansado. Injusto?

Tudo o que fica, no final (que nunca é o fim, nunca, nem quando param de pulsar os corações), é o som indecifrável da tv do vizinho, o apartamento estalando como um estranho, um barulho de motor e pneus de carro voltando pra casa muito depois da hora; alguém espera, ninguém espera. Tudo escondido por trás dos muros que construímos pra nos proteger.

O que sobra são essas coisas sozinhas.

Ninguém mais suporta ouvir falar: gente sozinha, ideal sozinho, dormir sozinho, falar sozinho. Até virar quase um zero mesmo (a quantidade de anulações tende ao infinito).

O vazio é um lodo intransponível que corre por dentro de encanamentos, postes, fios, veias, troncos de árvores. E vai se espalhando febrilmente, se estagnando por entre réplicas e tréplicas ou súplicas irreversíveis.

A solidão é um troço que faz a gente abrir a geladeira sem estar com fome ou sair por aí com umas pessoas bem barulhentas pra tentar estar junto. Pra asfixiar o vácuo de dentro que não está bem lá dentro, e sim nas superfícies, nos domingos de sol muito claros que contraem os olhos.

Que nem quando chegamos...

Cada um de nós tinha tanta farpa que tivemos de enrolar os braços em papel bolha pra não acabarmos tendo de ir ao hospital levar ponto.
Num acordo mútuo, dançamos uma valsa antes de começarmos a consertar o mundo. O nosso.
E prometemos dançar outra depois que acabássemos.
Faz uns cinco anos isso e ainda não dançamos a segunda valsa...
Nem vamos.

Tanta gente se separou desde então.
De seu par, de si próprio, do mundo...
Tanta depressão foi escrita, encenada e filmada.
Tanto sexo foi feito pra tentar tapar buraco.
Tanta mentira foi contada com aquela desculpa escrota de não magoar o outro.

Que por enquanto chega-se ao extremo de não saber mais...
Se ganha-se mais dinheiro pra realizar uns sonhos que vão exigir que se ganhe mais dinheiro.
Se vale à pena se sentir tão triste por tanto tempo pra depois ficar tudo bem. (se é que vai).
Se rabisca-se todas essas conclusões desesperadas e se volta-se ao ponto de partida.
(mas onde fica mesmo o ponto de partida?)
Já teve tanta coisa depois dele...

Teve aquele beijo. Naquela festa. Naquela noite que virou dia sem que a gente percebesse.(a verdade é que daqui a uns 40 anos vamos nos lembrar desse beijo. E, do resto, quase nada.)

Agora é assim: nada combina com nada.

Mas não se preocupa, vou voltar lá pra te buscar...
Lá onde perdi: minha pipa pro céu... minhas lágrimas pra água da piscina... meu cordão pra correnteza do rio... meus sorrisos pra cada uma das suas gentilezas, olhares, papéis de embrulho bonitos, escolhidos com carinho... meus caminhos... pra cada porta que se abra bem longe daqui.

Vem...


Me ajuda a lavar essa louça toda?

Prometo que depois a gente fica a tarde toda molhando as plantas até dar a hora da chuva, que eu finjo não gostar.
Dizem que é pra te manipular, mas você olha o meu cabelo molhado, a roupa ficando transparente, me aperta contra o seu peito e diz que é tudo charme, que eu nasci e vou morrer fazendo charme, e eu me controlo pra não achar graça, falo pra você não fugir do assunto, você não diz nada e aperta os olhos, aperta a chuva e você olha bem através dela, abre a boca não porque tem sede mas porque eu sabia e a provisão vem sempre de cima.

(menos música: vem da onde, música?)

Eu digo vamos pra dentro porque tenho medo dos raios, e desses eu tenho, não é charme, você sorri.
Arranca um ramo de capim limão pra fazermos chá e me leva pra dentro, me leva pro barco de papel, porque só assim a gente consegue sair de casa no meio desse dilúvio.

Deixa eu pegar o guarda-chuva.
Esfriou, é melhor você levar teu casaco.
Mas agora já saímos, vamos perder a hora.
(pai, quando se perde a hora, pra onde é que ela vai?)
Então deixa, qualquer coisa você veste o meu casaco.
Mas aí você é que vai ficar com frio.
Não tem importância.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Fim

Se ainda faltava alguma coisa a ser dita, se ela, ainda que intimamente, aguardava por alguma coisa a ser ouvida, então já não aguarda mais.

Um telefonema no meio da tarde vem trazer a descoberta daquilo que ela já soube de mais bonito... Veio trazer pra ela a realização de ter cumprido sua missão e a tarefa de continuar cumprindo...

Porque não haveria poesia, nem a dela nem a dos outros (que ela toma como se dela fosse), se antes de tudo não houvesse ele, que permitiu que a menina se libertasse e voasse pra longe, sem elos... Liberta de qualquer amarra que impedisse sua poesia, sua arte e sua escrita de ser aquilo que se transformou.

Porque a entrega de ambos inspirou mais do que belos textos... Aguçou o gosto, o bom, por tudo que ainda havia de belo e não descoberto. Doutrinou o faro pra aquilo que foge aos outros, mas não poderá nunca fugir dos dois... As boas músicas, as boas letras, a delicadeza das melodias, dos livros, a poesia... os cafés.

Agora, do lado de fora da janela, é como se tudo fosse ficar lá dentro. Dentro do baú que providenciamos nessas horas. Mas não, acredite... Porque aquilo que lhe foi dado será pra sempre dele, e ele carregará pra sempre as notas que introduziram cada sentimento da poesia que ela trouxe pra sua vida ...

E ela estará sempre por perto... Pra lhe alimentar de poesia, e assim, se alimentar também... Nem que seja por alguns minutos... Nem que seja pelo resto da vida.

domingo, 10 de agosto de 2008

1º Ato


Por dentro ainda a tentativa de entender como tudo isso foi acontecer.
Por dentro a certeza absoluta de que nada há de novo, que essa sintonia já existia ali, em algum lugar, represada, esperando apenas o momento certo de se ver livre novamente.

(O dia em que os olhos se cruzassem. Era a senha. O momento chegou.)

Na solidão mútua da multidão vazia, se reencontraram sem nunca terem se conhecido, mas se não houve uma primeira vez antes daquela noite, então nunca haverá... Porque o tanto que se descobriu já existir era muito para uma primeira vez.

Do suposto primeiro beijo à lembrança latente do último que ainda é sentido aqui, todos os caminhos levam a creditar que essa já é uma estrada de dois... Que desde de aquele dia já são eles um par.

No meio da efemeridade das relações atuais, sabê-lo ali, tão disposto, desarmado e livre, foi como um bálsamo, como a chance intimamente esperada por ela de se fazer feliz novamente, e, por já estar de mãos dadas com ele, fazê-lo também.

Quando as cortinas se abriram, o orgulho sentido pela menina da flor no cabelo preencheu os espaços, aguçou cada micro sentido de perceptividade para compreendê-lo ali, onde o tudo do menino ganha vida, e, se é que isso é possível, se torna ainda mais bonito.

Na platéia descobrir-se dele. Descobrir que nada mais pode haver de diferente disso. Saber que ali, de um outro ângulo, através das cortinas, também se esconde aquele que já é dela, porque teve a ousadia e a coragem de se enxergar assim.

De novo, a vontade constante de tê-lo por perto e de cuidar desse tudo que se apresenta, pra que um dia toda essa história possa ser contada... e pra que ela permaneça para sempre viva. Vida.

Manual



Anda, grita!
Me arrebenta de pancada, cospe na minha cara, diz que te enojo.
Só não fica aí estático com essa cara de babaca, fingindo que me entende, dizendo que me ama...
Não mente, porque agora quem se enoja sou eu, de ver atolado no seu mar de histórias descabidas.
(E eu me finjo de imbecil, porque adoro ver você se enchendo da certeza de que te pertenço, e que isso é incondicional.)
Burra, cega, apaixonada... É assim que me comporto ao ficar próxima de você e sinto o seu prazer nisso escorrer pelos seus poros, te deixando suado com as minhas atenções.
Agora eu estou aqui e você está aí.
E não finja que isso te basta porque eu sei que não é assim.
Não me dê boa noite me desejando pesadelos, e não me deseje um bom dia se pretende que eu continue sendo sua,
Cansei de ser julgada, culpada, coagida.
Cansei de me fazer de vítima, de ser menina, de jogar seu jogo.
Cadê as regras desse jogo onde o prêmio é você?
Cadê as regras desse jogo onde não existem equipes?
Cadê as instruções pra eu saber como é que eu faço pra virar a mesa... e jogar pratos garfos e guardanapos no chão?
Me ensina você que sabe tudo, como é que faz pra se dar com gente do seu tipo... ou não se dar.
Porque tu não conjuga o verbo dar, só o verbo receber
O verbo dar é exclusividade do eu, eu que conjuga dar, conjuga viver, conjuga amar...
Eu, que conjuga tudo que tu jamais vai experimentar.
Anda, vem aqui...
Me empresta sua pele, me dá sua saliva.
Anda, tira minha roupa que preciso dormir...
E por favor, apague a luz.

(2007)

Divindade Silenciosa

De repente sou uma cantora num mundo de deuses surdos. Surdez que tem o sabor quase agridoce dos que se recusam a aceitar... Aceitar as ondas, que vêm sonoras... pra nos fazer enxergar.
Pense que tudo é luz. E a luz é picante.
Num banco da praça a moça olha pro chão, e nesse momento ela é a deusa. (Porque nessa horas sempre ficamos de cabeça baixa, e não importa quando, mas chegará o dia e que você também não vai querer aceitar.)
Ao contrário dela, ele desliza. Está bonito. Livro na mão, falando sozinho. Não percebe a divindade silenciosa diante de si. Na verdade teve os sentidos retardados quando escolheu enfrentar.
(Diga a eles que não vou esperar a passagem. Vou começar agora. As coisas já mudaram e eu vou assim mesmo.)
Hoje ele é leve, é luz... Hoje é picante. Tentou trazê-la, mas ela não quis. (Certas coisas podem ser muito fortes para um tipo agridoce.)
E agora ele vai.
E ela? Ela fica, ela sobra, ela resta. Ela manifesta o desejo reprimido de provar que pode sim transformar tudo em festa... Mas então atesta que já não pode mais.
E era uma vez.

(2007)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

P.S

Pela primeira vez imaginou como será a vida realmente só.
Teve medo.

Pensou na menina romântica da mesa do bar, lembrou de sua pergunta e viu que talvez ela tivesse razão...
Afinal, o que falta?

(Não sabe. Nunca saberá.)

Naquele instante só conseguia lembrar daquilo que sobrava...
O amor latente se desesperando dentro dela.
A dor e a angústia que essa ausência anunciada trará.
As coisas lindas que ainda precisavam ser vividas, mas que não serão.
Nunca mais.

(Sem o outro um pouco do tudo perderá o sentido.)

Naquele instante só conseguia pontuar os momentos da vida em que foi mais feliz, e descobriu que quando se enxergava nessas horas, o outro também estava lá.

(E agora, como vai ser?)

Num cúmulo de ousadia e apego, quis guardar o cheiro, quis ter pra sempre o gosto, quis tatuar no corpo cada parte do dele que ela nunca mais vai conseguir esquecer.

Quis saber onde o tudo dele foi parar.
Onde o amor, que era tão magicalmente essencial se escondeu... e por que é que ele agora não conseguia mais encontrar.

A dor foi anestesiando o desespero e a vontade de que tudo não passasse de um sonho ruim. Mas as lágrimas que lhe banharam a face foram de um gosto salgado a amargo pôr pra fora aquilo que ela já não podia mais guardar.

(O amor de dois quando passa a ser de um só, se não for expurgado intoxica e mata.
Então ela decidiu chorar.
Então ela escolheu viver.)

domingo, 3 de agosto de 2008

Grandeza


(Quis deixar registrado antes que tudo se tornasse apenas a lembrança de um sonho mal interpretado. Quis deixar registrado antes que outros pudessem interferir no que precisava ser puro, limpo, sincero... Quis deixar registrado antes que tudo virasse uma outra coisa... e se transformasse.)

Hoje tive um sonho e por um momento cheguei a acreditar que tudo fosse verdade.
Sonhei com uma melodia sonora. Sonhei com os caminhos. Sonhei com a praia. Vermelha. Você.
Sonhei que em uma tentativa desesperada de fazer parte, tentava te ler por dentro. Tentava alcançar o tanto que se esconde aí... menos na cabeça e mais no coração.
Então pela primeira vez te olhei nos olhos pra te ouvir menino, observar teu risco, e, por querer te alcançar, me arriscar também.

(Tolice minha achar que podia. O que você traz aí dentro é muito maior do que todas as coisas que eu poderia carregar. Pra mim.)

E eu então, me contentei em ficar ao longe... Pra ver se te descobrindo, me descobria também.
E sim. E não.
Ao despertar, saber que livros, Chopin e cumplicidade podem representar muito, sem que esse muito coloque tudo a perder.

(Você, menino, é das coisas grandes sem que eu precise engrandecer. E mais uma vez, obrigada.)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Reversibilidade

(26 de maio de 2008)

Pela segunda vez tentou fazer da palavra um texto. Pela segunda vez foi tomada pelo impulso de falar de outro, de outras e de um outro tempo, tal era a semelhança. Mas lembrou da palavra, lembrou dos primatas e então esqueceu.

Lembrou assim do que lhe era latente ali, naquele momento. Lembrou-se do desafio de “relacionar-se sem relacionamento”. Sorriu. Gosta de desafios. Gosta de vencer desafios. Gosta de reverte-los pra si.

Porque a arte de ser sozinho requer algo muito além de vontade própria. Requer habilidade para exercitar desprendimento. Desprendimento pelo que o outro possa ter de melhor e mais bonito. (Porque o pior já é praxe tentarmos esquecer).

Por um instante lembrou do menino. Lembrou de seu gosto. Lembrou do cheiro do gosto... e do inverso também.

(Exercitar desprendimento...
Lembrar e esquecer..
Querer pra si e ceder aos outros...)

Não se criam correntes de elos abertos.
Nem relacionamentos de vínculos vis.

Então, sejamos breves.

Portas Abertas

(02 de julho de 2007)

Sensibilidade, ainda que tardia, a toda beleza exposta, registrada, transformada. Arte que vira vida no jardim da frente e morte no jardim de trás.
Vida rabiscada nas paredes e refletidas nos espelhos. Reflexões. Refletindo gestos de interrogação para mais tarde contemplar a entrega.
O espetáculo de assistir a redenção e render-se também.
“...não é aquilo que se vê, não é aquilo que se vê...” – Não é mesmo. Nunca foi. E as luzes piscam para nos certificarmos disso.
No tic-tac (tic-tac, tic-tac, tic-tac...) latente, ver a obra ganhar vida e aí sim virar arte. E nisso constatar que sem eles teria sido uma obra perdida.
(Mas quantos tinham mesmo um pacote na cabeça? Difícil dizer.)
Na memória ainda a lembrança daquele vídeo. A melodia nostálgica da caixinha de música nos levando até a sala para dizer que podia não ser a bailarina e não teria feito a menor diferença.
Quem se importa?
Vai ver era meu o pacote na cabeça.

Tatou


(30 de janeiro de 2008)

Na caixa, muito mais do que a atriz francesa que ela quis ser um dia. Na caixa muito mais do que a personagem de um outro enredo a ser descoberto. Na caixa uma palavra: amor... Pra se lembrar do dela.
Aquele é sobre a falta que o outro faz. E como, absolutamente, tudo muda de sentido quando isso acontece.
Pra lembrar que amor e carinho são bons agora, aqui. Nada pra depois. Nada pra quando passar. Principalmente porque o amanhã nunca chega e certas coisas nunca passam.
Mas um “eu te amo”, ainda que nada mude, precisa ser dito se for de verdade. Porque há palavras que são altamente tóxicas quando ingeridas e essas são delas.
“Eu te amo” é pra pôr pra fora.
(Hoje eu pus)

(Eu te amo e estou morrendo de saudade.)

Gravitacional


(Março 2008)

Teve vontade de ligar. Quis dizer que podia. Quis dizer que queria. Quis dizer até que se arrependia... Pelo amor não dado. Pelos beijos guardados. Pela vida linda que podia ter acontecido. Mas que não.
Nas palavras escritas pelo menino, o cheiro de tudo de belo e mágico que ele trouxe pra vida dela. Vai ver ela não saberia mesmo saber o que fazer com tudo aquilo.
(Era tanto. Era muito.)
Fazendo o mesmo caminho tantas vezes percorrido, quis ouvir que ainda havia tempo, que ainda não era tarde. Que o amor ainda vivia lá, além daqueles papéis e dos clipes com ferrugem. Não tinha como.
Tentou lembrar quando foi, depois daquela última vez, ter visto algo mais bonito. Não viu. Ele quando queria sabia ser belo. Ou mais.
Quando o menino já não era ele, quando ela já não era aquela, se reencontraram. E não. Por dentro o desejo de saber como tudo teria sido.
Desejo. E só.

Ao Meio

(22 de fevereiro de 2008.)

Agora é tudo partido. Agora é tudo em número dois, porém, nesse caso dois é ímpar.
E no meio desse turbilhão de acontecimentos, ter que deixar o que houve de melhor ir pelo ralo... Deixar descer pelo “cíclico espiral” da vida. Ficar com o pior pra poder seguir. Porque não é descaso... É só um caso incurável de desorientação.
E nesses dias ter que esboçar “sorriso-amarelo-gema” pra camuflar o quanto as idéias “multicoloridas-solitárias” do outro incomodam. O “solitárias”.
Vai ver quando crescer ele entende que esse ímpeto do “novo de novo” tende a nos enganar, e na hora de rearrumarmos nossa casa temos de ter cuidado especial com as peças que tem vida e vontade. O lugar errado pode ser fatal.
Mas a propósito: Como é que se faz pra ganhar confiança de cachorro? Vou precisar.

Mola Encolhida

(7 de setembro de 2007.)

Hoje foi tudo de novo, mais uma vez e agora pra sempre.
Hoje foram as justificativas tolas, os risinhos amarelo-falso e a velha preocupação de “ter-te por perto”.
Hoje de diferente só o silêncio da menina, o cansaço, e através dele a confissão da desistência.
Hoje, como num flash, toda aquela vida deixada pra trás (Ou pra frente?) vislumbrada de uma só vez.
Então se lembrou que se comodismo é mesmo um vírus letal, o amor também é.
Hoje a escolha de não pensar sobre a fim de passar imune. E a necessidade de se comprar um caixa bem grande pra pôr toda essa vida, que já não a pertence mais.
Às vezes demora, mas sempre chega.